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SONIC YOUTH + BREEDERS LIVE SP 08/09

(Cobertura para o show de duas bandas do coração.)

A PELE ESTICADA DO TEMPO: SONIC YOUTH: 28 anos. Quantas bandas, no cenário evanescente do rock, duram tanto tempo? E dessas, quais permanecem relevantes pelo que produzem agora? Se há alguma outra, o Sonic Youth mostrou do que é feito o seu engajamento com o presente. Numa apresentação de 75 minutos a banda nova-iorquina tocou quinze faixas e dividiu o show em duas partes bem evidentes. A primeira, dedicada sobretudo as músicas do seu último disco, The Eternal, de onde saíram as três faixas de abertura, “No Way”, “Sacred Trickster” e “Calming, the Snake”.

Depois, condensou composições desta década, como “Pink Steam” e “Jams Run Free” – esta com direito a já famosa dança de Kim Gordon, nítida expressão de sua desengonçada sensualidade -, com outras dos anos 80, caso da característica “Stereo Sanctity”, uma surpresa para fãs responsáveis pela consagração estética pós-punk do grupo. Ao contrário das apresentações anteriores em SP, ocorridas em 2000 e 2005, nenhuma música dos anos 90 foi ouvida ao longo do show, sem no entanto comprometer a adesão da platéia – no gargarejo, tomado por jovens fãs, todos demonstravam entusiasmo, mesmo ante a chuva renitente.

Com a formação original acrescida de Mark Ibold, baixista do Pavement, a apresentação, vigorosa, alternou os momentos enérgicos com outros plenos de contemplação. A escolha do repertório, com a dobradinha “The Sprawl” e “Cross the Breeze” bem no meio do show ressaltou a estratégia, graças às suas melodias. Antes do início, os fãs comentavam alvoroçados a disposição de mais de 20 guitarras diferentes no palco. Renovados significados despontam quando “Death Valley 69” é resgatada, no encerramento do show, lá dos primórdios da discografia, numa versão rigorosamente encorpada. Extasiante como o divertido tombo de Kim Gordon, admitido à sua performance, durante “Jams Run Free”: “maduros” até na arte de cair.
(Nov, 09)
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A espontaneidade deu o tom da apresentação das Breeders em São Paulo. A vibe era de cumplicidade irrestrita com a platéia, e os corpos se fizeram presentes: da bunda exibida pela guitarrista Cheryl Lyndsey, que acompanha a banda ao vivo, à uma jovem espectadora que chegou na boca do palco levada pelos braços da galera, os sinais eram de êxtase e libertinagem. Ligeiramente atrasados por um problema no microfone de Kim Deal, o show começou com “Tipp City”. Logo na seqüência vieram “Huffer”, “Divine Hammer” e a nova “Bang On”, em um dos melhores momentos do show.

Lá do gargarejo a sensação era de comoção e êxtase. Fãs emocionados entoavam as músicas em companhia de Kim Deal, e a única possibilidade era a de não ficar parado em nenhum momento. A sensação era a de uma festa boa, em algum clubinho da Augusta, animada por uma banda muito legal. A diferença é que na nossa frente estavam as Breeders. Sendo assim, acompanhamos deliciados a original mistura de pós-punk com surf music, como em “I Just Wanna Get Along”, ou no tom vibrante e lisérgico de “No Aloha”, alternados com outros mais climáticos, caso das melódicas “Night of Joy” e “Drivin’ on 9” – esta com direito inclusive à presença de um violino levado acanhadamente por Kelley Deal.

Com direito a cover do Guided By Voices e dos Beatles, o final guardava surpresas, como “Iris”, lá dos primórdios da banda. O bis, mirrado, com o espanhol bizarro de “Regala Me Esta Noche”, garantiu um encerramento tão melancólico quanto incomum. Já o impacto de um hit como “Cannonball” é algo que nenhuma palavra parece capaz de reconstituir. Na companhia das Breeders, a potência de sua vibração é capaz de proporcionar a suspensão do tempo, em qualquer lugar, agora mesmo, durante uma hora muito divertida vivida aqui em 2008.
(Nov, 08)
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