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MOUNTAIN BATTLES

Resenha para o disco das Breeders, Mountain Battles.
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The Breeders – Mountain Battles
Brizada, banda recusa obviedades e acerta em disco climático

É com uma espécie de mantra de guerra que as Breeders, banda egressa do final dos anos 80 e formada por Kim Deal (baixista do redivivo Pixies), retorna das profundezas em seu novo disco, Mountain Battles – trata-se do quarto álbum na discografia do grupo, o primeiro desde Title Tk, lançado em 2002.

Em “Overglazzed”, faixa de abertura, o tom de seu canto é irascível ao repetir uma frase, única e precisa, durante a mísica: “I Can Feel It”, anuncia, como numa exortação. De fato, em um disco um tanto climático, atento às ambiências, é realmente curioso – e também muito eficiente, inclusive pela economia do recado – que seja dado já de cara que estamos no primado das sensações. As músicas da banda reportam a percepções com ritmos desgovernados, ora mais rápidos, embora normalmente com uma sensação lazy em que tudo vai muito devagar.

Perder-se em si mesmo, eis a alegria das Breeders novamente comungada com os ouvintes. É uma banda revitalizada que os fãs – antigos ou novos – poderão encontrar em Mountain Battles: que o diga “Walk It Off”, hit instantâneo do disco, com o baixo vigoroso a proporcionar uma reatualização saudosa dos melhores momentos já vingados pelas irmãs Kim e Kelley Deal – núcleo de uma formação constantemente revista – em seus discos anteriores.

“Bang On”, a faixa seguinte, reafirma a perplexidade. Durante dois minutos de uma levada new-wave, a vocalista desafia o ouvinte enquanto canta: “I love no one/And no one loves me”. O canto da sereia das Breeders repousa sereno na combinação pouco ortodoxa de elementos como uma crua bateria com curvas desenhadas por um sinuoso baixo, além da voz rasgante de Kim Deal a emoldurar letras sobre tenras melodias. A mistura contribui para o arrebatamento do ouvinte, capturado pela aparente simplicidade do andamento e pelo tom lo-fi e garageiro que preenche as entrelinhas do som da banda – caso de “It’s The Love” ou de “German Studies”, cantada em alemão pisado, mal-tratado.

A aparente disparidade entre a toada faça-você-mesmo conciliada com tratamentos dedilhados das canções produz baladas de efeitos poderosos, nas quais ao se acentuar a ambigüidade, também potenciliza-se os sentidos da escuta, como na climática “Night Of Joy” – percorrida por um tom intimista, recupera a sonoridade de girlie groups dos 60’s. A música seguinte, “We’re Gonna Rise”, primeiro single do disco, retoma outros momentos na trajetória da banda, como “Off You”, do álbum anterior, ambas de levada serena e preguiçosa, sensação reiterada adiante também pelas guitarras havaianas em “Regalame Esta Noche” – sintonia fina mediada pelo espanhol deficiente, que acentua a passionalidade da canção.

DÉBIL
Uma certa sensação de debilidade nas interpretações e arranjos realmente dá a tônica e parte da graça à sonoridade da banda. Tal característica já rendeu momentos memoráveis, como as viradas da canção “No Aloha” (da obra-prima Last Splash, de 1993), ou em “Oh!”, de Pod (1990), o festejado debut – aquele que foi eleito por Kurt Cobain como seu disco predileto, em histórica entrevista dada em 1992 à extinta Melody Maker. Desse disco mais recente, a dobradinha “German Studies” e “Istambul” convocam para uma possível reinvenção do que anteriormente fora convencionado como noise. Fundadas num aparente non-sense, com seu ritmo arrastado e instrumentação esparsa, acentuam a decantada indolência como um dos traços dos mais distingüíveis na sonoridade das Breeders.

No desfecho, outra faixa francamente desafiadora convida o ouvinte a acionar o repeat do aparelho de som. Trata-se de “Mountain Battles”, a canção título. Um duelo entre a voz de Kim Deal e uma contínua linha de baixo posta em efeito – como na iminência de uma tremenda distorção, numa tênue sintonia – é o pano de fundo para versos sobre corações murchos pensando no que fazer. Enigmático, com em uma espiral, o som da banda recusa obviedades: “I ride shot gun/From the facility”, diz uma recitativa Kim Deal ao longo da canção. Originada de uma das bandas de maior credibilidade da virada dos 80/90, responsável pela formulação do indie nos 90, brizadas em 2008. A despeito do anódino punk-de-terninho e a favor da fabulação underground, a batalha está ganha em Mountain Battles.
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Box:
KIM DEAL
Reconhecida pela geração indie como uma guerreira do undergound, Kim Deal foi baixista dos Pixies – banda citada por artistas como Radiohead, Bowie e P.J.Harvey. Nos anos 90, divididiu os vocais com Kim Gordon na música “Little Troubel Girl”, sua notória colaboração com outra importante banda de rock norte-america, o Sonic Youth. Pod, o primeiro disco de sua banda, The Breeders, foi lançado em 1990 e recebeu elogios de toda a crítica em sua época.
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Originalmente publicado no Rraurl.com